Governo caiu numa armadilha fiscal
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_O futuro dirá se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cometeu um acerto ou um erro político, antes mesmo de tomar posse, ao negociar o fim do chamado teto de gastos e a aprovação do novo
arcabouço fiscal com o Congresso. Isso evitou um duro ajuste fiscal no começo de seu terceiro mandato, mas também anulou a narrativa de que herdou uma bagunça financeira de Jair Bolsonaro. A
tentativa de golpe de Estado no 8 de Janeiro marcou o antes e depois do ponto de vista da questão democrática, porém o rombo nas contas públicas foi varrido para debaixo do tapete do
Orçamento da União._ _Essa fuga para a frente, agora, está cobrando o seu preço, porque o déficit fiscal que poderia ter sido zerado na largada do mandato assombra o Palácio do Planalto e
gera um clima de incerteza econômica – a não ser que se faça, realmente, um ajuste que equilibre as contas públicas sem aumento da carga tributária. A política de expansão de gastos públicos
e aumento do consumo popular, por causa do déficit fiscal, não vem surtindo efeito do ponto de vista da popularidade do governo em razão da inflação e dos juros altos necessários para
combatê-la._ _O governo considera aumentar o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) para compensar perdas de arrecadação e cumprir a meta fiscal de déficit zero proposta pelo ministro da
Fazenda, Fernando Haddad. Mas isso impõe custo político alto, especialmente em ano pré-eleitoral. Uma receita compatível com o gasto é fundamental para a credibilidade do arcabouço fiscal.
Não atingir metas fiscais consistentes provoca reação negativa do mercado, mais pressão sobre os juros e prejuízos à credibilidade do ministro da Fazenda._ _Existe uma grande diferença entre
governabilidade e governança. A primeira está diretamente associada ao apoio que o governo recebe do Congresso; a segunda, à qualidade da gestão administrativa e financeira. O ajuste
depende mais da governança do que da governabilidade. Bloco de forças hegemônico no Congresso, o Centrão dificilmente aprovará um novo aumento de tributos. Os aliados do governo são tão
pragmáticos na hora de apoiar o aumento dos gastos públicos, como no caso das emendas parlamentares, quanto ao se opor à aprovação de tributos impopulares, como é o caso do IOF. Ou seja,
politicamente, a conta não fecha._ _A imagem do presidente Lula está ancorada na defesa dos mais pobres. Como aumentar o IOF afeta crédito, câmbio e operações do dia a dia, essa base de
apoio popular sofre um grande estresse. Se o aumento do IOF não é uma bandeira eleitoral do governo, serve para isso, porém, nas mãos da oposição._ _Lula, ou outro candidato do PT, disputará
a Presidência em 2026 contra uma direita forte no Congresso, reagrupada nas redes sociais e muito influente na sociedade civil. Os fatos negativos protagonizados pelo governo não ficarão
para trás, simplesmente. As tentativas de aumentar impostos e a fraude do INSS, por exemplo, serão relembradas na campanha eleitoral._ _O governo está numa sinuca. É difícil fazer um corte
de gastos em áreas sensíveis, como emendas parlamentares, previdência ou subsídios. O aumento “disfarçado” de arrecadação, como a revisão de benefícios fiscais, taxação de fundos exclusivos
ou offshores, com menor impacto direto no cotidiano da classe média, também não é fácil. Lula criou essa armadilha ao adotar uma estratégia de expansão da economia pelo aumento da
arrecadação e do consumo._