Bicicleta vive boom, e setor eleva em 54% o faturamento na pandemia


Bicicleta vive boom, e setor eleva em 54% o faturamento na pandemia

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Seja para apenas passear, como alternativa de transporte ou complementação de exercício físico, o uso da bicicleta vive um boom na pandemia. A procura começou a subir durante os primeiros


meses de isolamento social e não arrefece, fazendo com que o setor esteja entre os beneficiados por mudanças de comportamento em tempos anormais. Enquanto vários setores amargaram perdas, a


cadeia de produção e venda das bikes terminou 2020 com uma alta de 54,4% no faturamento, em comparação com o resultado do ano anterior, aponta estudo feito pelo Itaú Unibanco. O comércio


desse tipo de equipamento sentiu o aumento da procura pouco depois de o isolamento ser decretado para conter a pandemia em 2020. "Percebemos que houve uma migração do esporte e do


transporte coletivos para o individual, e também um aumento da preocupação com a saúde”, diz Jean Graminho, diretor de marketing da Pedal Power, localizada em Moema, bairro da capital


paulista. "E enquanto a bicicleta ganhava adeptos, nós ganhávamos novos clientes." Entre maio do ano passado e fevereiro deste ano, a procura por bikes na loja aumentou 50%, e a


busca por serviços de oficina, 45%, afirma Graminho. “A demanda veio principalmente dos clientes que queriam praticar esporte, pois, por um tempo, não tinha academia aberta, as piscinas de


clubes estavam fechadas e quem jogava futebol também ficou sem a sua atividade”, diz. Clientes da Pedal Power chegaram a se organizar para criar um grupo de ciclismo coletivo. Desde o início


da pandemia, eles circulam em grupo uma vez por semana pela cidade. Os fabricantes registraram uma alta equivalente. O Polo Industrial de Manaus produziu em janeiro deste ano quase 57 mil


unidades —alta de praticamente 45% em relação ao mês de dezembro de 2020 e de 1% sobre janeiro do ano passado. Os dados são da Abraciclo (Associação Brasileira dos Fabricantes de


Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares). Os fabricantes instalados em Manaus estimam que serão produzidas 750 mil unidades neste ano, uma alta de 13% em relação ao ano


passado. O modelo mais procurado durante a pandemia foi a mountain bike aro 29 —alta de 50%, segundo Cyro Gazola, presidente da marca de bicicletas Caloi e vice-presidente da Abraciclo.


"Antes, essa bicicleta era mais usada em trilhas e terrenos acidentados. Na pandemia, passou a ser usada também na cidade”, afirma o executivo. Os modelos mais fabricados, segundo a


associação, são mountain bikes aro 29 (64%), bicicletas urbanas e de lazer (31,9%) e modelos infanto-juvenis (2,5%). Embora as regiões Sul e Sudeste continuem sendo os principais polos


consumidores, houve um aumento na demanda no Norte, Nordeste e Centro-Oeste, de acordo com Gazola. A produção de bicicletas, no entanto, não ficou imune à disrupção na cadeia de fornecimento


de insumos, um efeito colateral da pandemia que restringe a produção em inúmeros segmentos industriais em escala global. “Estamos com um gap de 50% na oferta de insumos das bicicletas


fabricadas no Brasil, e faltam, principalmente, transmissões, freios, suspensões e selim", diz. "De cada 10 unidades que normalmente poderíamos entregar, finalizamos 7 ou 8."


Como a demanda continua alta no mundo e não há sinal de normalização na entrega de peças, a tendência é que a produção siga enfrentando esse desafio, afirma o executivo. O acirramento da


pandemia, ocasionalmente, também afeta a operação industrial. O Polo de Manaus, por exemplo, teve que acompanhar o lockdown do município em janeiro. O estado tem registrado altos índices de


contágio e mortes pela Covid-19 e, para conter a doença, fabricantes produziram em horário reduzido. O Brasil é o quarto maior produtor mundial de bicicletas, mas com o aumento da demanda, o


governo ampliou as facilidades para importadores. Em fevereiro, a Camex (Câmara de Comércio Exterior) do Ministério da Economia publicou no Diário Oficial da União uma resolução que


determina a redução da tarifa de importação para bicicletas. Foi estabelecida uma redução progressiva da tarifa, que estava em 35%. Desde 1º de março, caiu para 30%. A taxa sofrerá nova


redução, para 25%, a partir de 1º de julho e cairá para 20% a partir de 31 de dezembro. O patamar de 20% é previsto na TEC (Tarifa Externa Comum) do Mercosul. No entanto, desde 2011 a tarifa


estava em 35% depois de o Brasil incluir as bicicletas na lista de exceções à TEC. A redução da tarifa foi criticada pela Abraciclo. Para Gazola, a medida não deve resultar em preços


menores para o consumidor final e pode comprometer até 4.000 empregos diretos. “O setor demonstrou ao governo, com estudos, que não era necessário fazer a virada da redução desse imposto de


uma vez só. O que propusemos foi fazer uma virada gradual ao longo de três anos e o governo decidiu agora fazer essa virada em oito, nove meses”, afirma. Em 2020, o país teve retração de


30,8% na importação de bicicletas —52 mil unidades importadas, ante 75 mil em 2019. A maioria veio da Ásia, com a China respondendo pelo maior volume, seguida por Taiwan e Vietnã. No ano


passado, o Brasil exportou bicicletas, principalmente, para o Paraguai, Uruguai e Bolívia. RAIO-X DO SETOR DE BICICLETAS NO BRASIL FROTA NACIONAL Mais de 70 milhões de unidades PRODUÇÃO


ANUAL 2,5 milhões de unidades* STATUS DE PRODUÇÃO Brasil é 4º maior produtor mundial de bicicletas