Mandetta está longe de ser unanimidade na comunidade médica


Mandetta está longe de ser unanimidade na comunidade médica

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O ministro Luiz Henrique Mandetta, que era atacado por jornalistas por ser escolha política no começo, virou o queridinho da imprensa e dos que odeiam Bolsonaro, justamente porque passou a


representar o antagonista do presidente na questão do combate ao coronavírus. Transformaram, assim, Mandetta no herói para poder pintar Bolsonaro de grande vilão. Em alguns casos o


oportunismo chega a ser tão macabro que culpam o presidente pelas mortes por coronavírus até aqui, sendo que não há falta de leito (ainda) no país, ou seja, nenhuma morte por enquanto se


deve à falta de isolamento. Mas será que Mandetta é essa unanimidade toda no meio médico? Será que Mandetta fala em nome da "ciência" e Bolsonaro do obscurantismo? Justiça seja


feita, o próprio ministro, na coletiva desta quarta, reconheceu com alguma humildade que não é dono da verdade e que existem caminhos alternativos. Também elogiou muito toda a equipe


ministerial do governo, que é um quadro técnico sem paralelo na história. Eis o problema, porém: Mandetta e sua política radical de isolamento estão longe de representar a visão única


existente na comunidade médica. Recebi de um respeitado médico uma mensagem de desabafo justamente porque ele e vários pares estão revoltados com essa idolatria toda ao ministro. Eis alguns


trechos (ele pediu anonimato): _O propagado apoio do Mandetta pela classe médica, não é bem assim. Alguns anos atrás, o deputado  Mandetta teve uma ideia, junto com alguns membros da frente


parlamentar da saúde, da criação do IBDM, Instituto Brasil da Medicina. Isto funcionaria  semelhante ao que a bancada do agronegócio tem.   Varias sociedades foram convidadas, encabeçada


pela SBOT, Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia. O IBDM nunca foi bem visto pela AMB e associadas, inclusive estas associações   queriam a indicação para ministro do presidente


da AMB, o Dr. Lincoln. Quando Mandetta  assumiu o ministério, o IBDM, comandado pelo Dr. Mestrinho e o deputado Hiran Gonçalves, cresceu muito, e várias  sociedades se aproximaram e bancam


mensalmente as reuniões e projetos._ _A relação com os médicos começou a se deteriorar  quando da aprovação do programa Médicos Pelo Brasil, o qual em seu projeto original teve um grande


apoio da classe, mas quando foi para o Congresso foi desfigurado, sem que o ministro trabalhasse contra. Muitos afirmam que, na época, ele falava uma coisa para os médicos, mas no Parlamento


apoiava a desfiguração. Como a reação foi muito grande dos médicos, principalmente da AMB (o IBDM se calou), o presidente foi procurado diretamente e vetou as mudanças que depois não


puderam ser derrubadas na Câmara. Desde este momento, a relação foi ficando de desconfiança._ Para esse médico e outros, a máscara começou a cair quando surgiram os primeiros boatos de


demissão do ministro, e foi pedido ao IBDM vídeos de apoio. Poucos aceitaram. "Mandetta nunca foi técnico", afirmou esse médico. "Sua formação é mais de político",


constatou. E concluiu: "Como bom orador, sempre falou o que os seus eleitores queriam ouvir". Sua análise é de que Manieta ganhou notoriedade por falar fácil, não usar termos


médicos demais, falar o que o povo entende e com clareza, simpatia. Além, claro, de oferecer a (falsa?) sensação de segurança com o isolamento radical. Para esse médico, a histeria se deve


ao fato de o coronavírus ter chegado com força na elite. O pobre continua morrendo como antes, mas agora também de fome. Para ele, é isso que gera a reação do presidente: "Bolsonaro


pode não ser dos mais brilhantes, mas tem bom coração". O uso das UTIs do SUS sempre esteve com 90% de ocupação, e várias cirurgias de sua área de especialização foram canceladas por


falta de vaga. Isso é corriqueiro, diz. Enfim, para esse médico, Mandetta jamais será um Adib Jatene. E ele garante que não está sozinho nessa opinião. Muito pelo contrário... E entre os


possíveis substitutos, há vários nomes bons. Mas o escolhido que se prepare: vai virar vitrine e alvo da mídia, como apontou meu colega Paulo Mathias: Exato. Os "corona lovers"


politizaram tudo, e de forma binária, tribal: quem está do lado deles é "do bem", "limpinho", "puro" e fala em nome da ciência; quem discorda dos _meios_ só


pode ser um sujeito terrível, obscurantista, insensível e responsável por cada morte por coronavírus. É jogo sujo, podre mesmo!