Será mesmo urgente ou querem aprovar o diploma à pressa?
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Portugal deixou na passada sexta-feira de produzir eletricidade a partir de carvão, antecipando uma meta que estava previsto cumprir até 2030. Portugal deixou na passada sexta-feira de
produzir eletricidade a partir de carvão, antecipando uma meta que estava previsto cumprir até 2030. Não me atrevo a pôr em causa este passo louvável, até porque a medida vai certamente ter
um impacto positivo sobre a qualidade do ar daquela região do Ribatejo. Mas por favor não venham dizer-nos que estamos a dar um grande contributo (ou a mostrar o nosso compromisso, como
agora se diz) para atingir a tão desejada neutralidade carbónica. O que pode uma formiga fazer contra uma manada de elefantes (China, Estados Unidos da América, Canadá, Austrália)? Alguém
acredita, como querem fazer-nos crer alguns responsáveis políticos, que somos vistos como um modelo a seguir, que vamos liderar o processo da transição energética? Aqueles que são realmente
os grandes poluidores a nível mundial continuarão a poluir alegremente, como se viu pela posição da Índia na cimeira do clima em Glasgow. Se porventura nós podemos dar-nos ao luxo de sermos
os campeões das energias renováveis, é porque não temos uma indústria digna desse nome. Tivéssemos nós outras necessidades e as prioridades seriam obviamente outras. Entretanto, está em
curso um processo altamente sensível para reformar o Sistema Elétrico Nacional. O argumento apresentado pelo secretário de Estado da Energia, mais uma vez, é que temos de acelerar a aposta
nas renováveis. É curioso que apesar da importância do tema, ele tem sido pouco debatido – e talvez nem o Governo queira que se debata, tendo em conta o prazo de catorze dias, que termina já
quarta-feira, que deu para a discussão pública do diploma. A intenção é virtuosa? Admito que sim. Mas por favor discuta-se o assunto, ponham-se em cima da mesa todas as alternativas e,
sobretudo, não se aprove o diploma à pressa só porque o Governo pode estar de saída. Desculpem, mas sempre que se fala destas decisões de última hora lembro-me do famigerado Freeport. Os
terrenos ficavam em área protegida, mas uma diligência in extremis do Ministério do Ambiente redefiniu convenientemente os limites da reserva natural. Cuidado, a pressa não costuma ser boa
conselheira.