O impacto do pacto europeu de migração e asilo

O impacto do pacto europeu de migração e asilo

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A migração é um fenômeno global que acompanha o desenvolvimento das sociedades ao longo da história, sendo impulsionada por fatores econômicos, políticos e humanitários. No contexto europeu,


a gestão dos fluxos migratórios tornou-se um dos desafios centrais da governança supranacional, especialmente após as sucessivas crises de refugiados e os impactos sociais gerados pelo


aumento da mobilidade populacional.


Portugal, devido à sua posição geográfica estratégica e às suas relações históricas com países lusófonos, destaca-se como um destino importante para imigrantes que buscam melhores condições


de vida na União Europeia. A crescente chegada de estrangeiros gerou a necessidade de reformas legislativas, visando garantir um equilíbrio entre políticas de acolhimento e medidas de


controle fronteiriço.


A União Europeia, ao reconhecer as fragilidades dos mecanismos anteriores, aprovou o Pacto Europeu de Migração e Asilo em 2023, estabelecendo novas diretrizes para harmonizar os sistemas de


recepção de migrantes e requerentes de asilo nos países-membros. Este marco regulatório visa aprimorar a eficiência dos processos administrativos, fortalecer a cooperação entre nações e


assegurar a proteção dos direitos fundamentais dos imigrantes, sem comprometer a segurança interna dos Estados-membros.


O presente artigo examina as implicações jurídicas desse pacto na política migratória portuguesa, abordando os desafios estruturais enfrentados na aplicação das novas normas. A pesquisa


investiga as adaptações legislativas necessárias, o impacto da regulamentação sobre os direitos dos migrantes, e as controvérsias políticas que emergiram a partir da implementação do novo


modelo europeu de governança migratória.


Dessa forma, o estudo busca oferecer uma análise crítica e detalhada das transformações normativas e administrativas, avaliando até que ponto Portugal consegue conciliar suas


responsabilidades internacionais com suas demandas sociais e econômicas internas.


2. O Pacto Europeu de Migração e Asilo: Diretrizes fundamentais


A União Europeia aprovou o Pacto Europeu de Migração e Asilo em 2023, visando reformular o sistema de gestão migratória. O documento estabelece mecanismos para agilizar a triagem de


solicitantes de proteção internacional, melhorar a resposta aos fluxos de deslocamento populacional e garantir maior compartilhamento de responsabilidades entre os países europeus.


Reforçar o controle Fronteiriço e a gestão de fluxos migratórios


Cooperação e distribuição justa de responsabilidades entre os Estados-membros


Combate às redes de tráfico de pessoas e imigração irregular


A implementação do Pacto Europeu de Migração e Asilo exigiu uma série de adaptações normativas em Portugal, visando harmonizar as políticas nacionais com as diretrizes europeias. Essas


mudanças refletem a necessidade de modernizar os procedimentos administrativos, garantir maior proteção aos imigrantes e fortalecer o controle fronteiriço, sem comprometer os princípios


fundamentais de direitos humanos.


O decreto-lei 41/23, de 2 de junho foi um dos marcos dessa transformação, criando a AIMA, I.P. - Agência para a Integração, Migrações e Asilo, que substituiu o antigo SEF - Serviço de


Estrangeiros e Fronteiras. A nova entidade assumiu a responsabilidade pela gestão administrativa da imigração, incluindo a concessão de autorizações de residência e a integração de


migrantes, garantindo um modelo mais centralizado e acessível.


A lei 73/21, de 12 de novembro, por sua vez, reformulou o sistema de controle de fronteiras, separando as funções policiais das administrativas. Com essa mudança, as forças de segurança


passaram a atuar exclusivamente na fiscalização migratória, enquanto a AIMA ficou encarregada da emissão de documentos e do atendimento aos imigrantes. Essa separação buscou otimizar os


processos e garantir maior eficiência na aplicação das políticas migratórias.


Outro avanço significativo foi o decreto lei 53/24, de 30 de agosto, que trouxe novas regras para a concessão de vistos de trabalho e residência. A medida facilitou a entrada de


profissionais altamente qualificados, promovendo uma imigração regulada e alinhada às necessidades do mercado de trabalho português. Além disso, estabeleceu critérios mais claros para a


obtenção de proteção internacional e refúgio, garantindo maior segurança jurídica aos solicitantes.


A lei 27/24, de 15 de maio, aprovada pelo Parlamento, fortaleceu os direitos dos imigrantes ao acesso à saúde, educação e mercado de trabalho. Também ampliou os mecanismos de proteção contra


deportações arbitrárias, assegurando maior estabilidade para estrangeiros residentes em Portugal. Essa legislação representa um avanço na inclusão social dos imigrantes, promovendo sua


integração de maneira mais estruturada.


O decreto mais recente sobre imigração em Portugal é o despacho 11856-A/24, publicado em 7 de outubro de 2024, no Diário da República. Esse despacho estabelece um grupo de trabalho


responsável pela preparação, coordenação e execução do Plano Nacional de Implementação do Pacto Europeu de Migração e Asilo.


O documento reforça a necessidade de adaptação das políticas migratórias nacionais às novas diretrizes europeias, exigindo que Portugal desenvolva quadros jurídicos específicos e novos


processos administrativos para garantir a aplicação eficaz das medidas aprovadas. O plano deve ser transmitido à União Europeia até o final do ano, e sua execução completa está prevista para


2026.


Essas reformas demonstram um esforço contínuo para aprimorar a governança migratória, tornando os processos mais ágeis e acessíveis. No entanto, desafios como a sobrecarga administrativa e a


necessidade de maior digitalização dos serviços ainda precisam ser enfrentados para que Portugal consiga consolidar um modelo migratório eficiente e sustentável.


A modernização do arcabouço jurídico português trouxe avanços significativos na gestão migratória, mas também revelou desafios que precisam ser enfrentados para garantir a plena eficácia das


novas políticas. A criação da AIMA - Agência para a Integração, Migrações e Asilo representou um passo importante na digitalização dos serviços e na centralização dos processos


administrativos, permitindo uma maior organização na concessão de autorizações de residência. No entanto, a transição do antigo SEF - Serviço de Estrangeiros e Fronteiras para a AIMA gerou


um período de instabilidade, com um acúmulo de processos pendentes e dificuldades na obtenção de agendamentos.


A digitalização dos serviços trouxe benefícios evidentes, como a redução do tempo de espera para obtenção de documentos e a possibilidade de acompanhamento remoto dos processos. No entanto,


a sobrecarga dos sistemas digitais e a falta de pessoal capacitado para lidar com a demanda crescente resultaram em atrasos significativos, levando muitos imigrantes a recorrer à via


judicial para garantir seus direitos. A ação de intimação para proteção de direitos, liberdades e garantias, prevista no CPTA, tornou-se uma ferramenta essencial para aqueles que enfrentam


dificuldades na regularização documental.


Além da eficiência administrativa, as reformas legislativas fortaleceram a proteção aos imigrantes, garantindo direitos fundamentais como acesso à saúde, educação e mercado de trabalho. A


lei 27/24, de 15 de maio, ampliou os mecanismos de proteção contra deportações arbitrárias, assegurando maior segurança jurídica aos estrangeiros residentes em Portugal. Essa legislação


representa um avanço na inclusão social dos imigrantes, promovendo sua integração de maneira mais estruturada.


Entretanto, os desafios na implementação das reformas continuam a ser um obstáculo. A sobrecarga dos órgãos responsáveis, aliada à necessidade de maior investimento em infraestrutura, tem


dificultado a aplicação eficaz das novas normas. A falta de comunicação clara entre as autoridades e os imigrantes também contribui para a insegurança jurídica, gerando desinformação e


ansiedade entre aqueles que dependem da regularização para permanecer no país.


Com a consolidação das novas políticas, Portugal busca aperfeiçoar seus mecanismos de acolhimento, promovendo uma abordagem mais inclusiva e eficiente. A expectativa é que, nos próximos


anos, sejam implementadas novas regulamentações para facilitar a integração de imigrantes e fortalecer a cooperação internacional na gestão migratória.


Para que Portugal consiga consolidar um modelo migratório sustentável, algumas medidas são essenciais:


A imigração continuará sendo um tema central no debate político e social, exigindo soluções que conciliem crescimento econômico, proteção dos direitos fundamentais e preservação da


identidade nacional. O desafio será encontrar um modelo sustentável que permita que Portugal continue sendo um destino atrativo para imigrantes, sem comprometer sua estabilidade interna.


A implementação do Pacto Europeu de Migração e Asilo trouxe mudanças significativas para o sistema migratório português, exigindo adaptações que vão desde a reformulação dos processos


administrativos até a revisão dos direitos e garantias dos imigrantes. Com um número crescente de estrangeiros buscando residência no país, as autoridades precisaram estabelecer novos


mecanismos de entrada, permanência e integração, garantindo que a imigração ocorra de maneira ordenada e eficiente.


Uma das principais alterações foi a extinção do procedimento de manifestação de interesse, que anteriormente permitia que imigrantes solicitassem residência sem um visto prévio. Agora, o


governo prioriza canais de entrada mais estruturados, como vistos para reagrupamento familiar, estudantes internacionais e profissionais qualificados. Essa mudança visa reduzir a


informalidade e agilizar a regularização dos estrangeiros que chegam ao país.


Além disso, foi criada uma estrutura de missão para resolver os mais de 400 mil processos pendentes, garantindo que imigrantes que já estão em Portugal possam obter sua documentação sem


enfrentar longas esperas. Essa iniciativa busca desburocratizar o sistema, tornando os procedimentos mais acessíveis e transparentes.


Com o aumento dos fluxos migratórios, o governo português também investiu na modernização dos sistemas de controle de fronteiras, incluindo a digitalização dos processos e a implementação de


novos bancos de dados para monitoramento de entradas e saídas. Essa medida visa reduzir congestionamentos nos aeroportos, especialmente em Lisboa e Faro, onde o volume de passageiros tem


gerado atrasos significativos.


Além disso, foi criada uma equipa multi-forças de fiscalização, composta por diferentes órgãos de segurança, para combater abusos relacionados à imigração ilegal, tráfico de seres humanos e


exploração laboral. Essa ação reforça o compromisso do país com uma imigração regulada e segura, garantindo que os direitos dos imigrantes sejam protegidos.


A nova legislação também trouxe avanços na proteção social dos imigrantes, garantindo acesso facilitado a serviços essenciais como saúde, educação e mercado de trabalho. O governo


estabeleceu novos centros de acolhimento, especialmente voltados para refugiados e menores desacompanhados, oferecendo suporte jurídico e assistência social.


Outra medida importante foi o reforço do ensino de PLNM - Português como Língua Não Materna, permitindo que imigrantes tenham mais oportunidades de integração no país. Essa iniciativa visa


reduzir barreiras linguísticas, facilitando a adaptação dos estrangeiros ao cotidiano português.


Apesar dos avanços, a implementação dessas novas diretrizes ainda enfrenta desafios estruturais. A sobrecarga dos órgãos responsáveis pela imigração, aliada à necessidade de maior


investimento em infraestrutura, tem gerado atrasos na emissão de documentos e dificuldades na aplicação das novas regras.


Além disso, a transição para um sistema mais rígido de controle migratório gerou debates políticos e sociais, com setores progressistas defendendo uma abordagem mais inclusiva, enquanto


grupos conservadores alertam para os impactos da imigração sobre o mercado de trabalho e a identidade cultural portuguesa.


A imigração sempre foi um tema sensível no debate público, e a implementação do Pacto Europeu de Migração e Asilo trouxe novas camadas de complexidade para a sociedade portuguesa. Com um


número crescente de estrangeiros buscando residência no país, as políticas migratórias passaram a ocupar um espaço central nas discussões políticas, econômicas e sociais.


Portugal, historicamente reconhecido por sua postura acolhedora, viu sua população imigrante crescer exponencialmente nos últimos anos. Em 2023, o número de estrangeiros residentes


ultrapassou um milhão de pessoas, representando um aumento de 33,6% em relação ao ano anterior. Esse crescimento acelerado gerou desafios administrativos e estruturais, exigindo ajustes na


legislação e nos mecanismos de integração.


A nova regulamentação migratória provocou reações divergentes entre os diferentes espectros políticos. De um lado, setores progressistas defendem a flexibilização das normas para facilitar a


entrada de imigrantes e fortalecer a economia nacional. Argumentam que a imigração é essencial para suprir a demanda por mão de obra em setores estratégicos, como tecnologia, saúde e


construção civil.


Por outro lado, grupos mais conservadores expressam preocupações sobre o impacto da imigração na identidade cultural portuguesa e no mercado de trabalho. O receio de que a chegada massiva de


estrangeiros possa pressionar os serviços públicos e reduzir oportunidades para trabalhadores locais tem sido um dos principais argumentos utilizados por partidos que defendem políticas


mais restritivas.


A presença crescente de imigrantes tem gerado impactos diretos na economia portuguesa. Um estudo da Nova SBE revelou que a restrição da imigração poderia agravar impostos e deteriorar as


contas públicas, afetando diretamente a sustentabilidade da Segurança Social. Isso ocorre porque a imigração contribui para o equilíbrio demográfico, trazendo trabalhadores jovens que ajudam


a financiar o sistema previdenciário.


Além disso, a imigração tem influenciado o mercado imobiliário. O aumento da demanda por moradia impulsionou os preços dos aluguéis em cidades como Lisboa e Porto, gerando preocupações sobre


a acessibilidade habitacional para a população local. Ao mesmo tempo, a chegada de novos residentes fortaleceu setores como comércio e serviços, promovendo um crescimento econômico


significativo.


Apesar dos benefícios econômicos, a integração dos imigrantes ainda enfrenta obstáculos. Barreiras linguísticas, dificuldades no reconhecimento de diplomas estrangeiros e burocracia


excessiva são alguns dos desafios que dificultam a adaptação dos recém-chegados.


A percepção pública sobre a imigração também tem sido influenciada por episódios de xenofobia e discriminação. Movimentos sociais têm se mobilizado para combater discursos anti-imigração,


promovendo campanhas de conscientização e iniciativas de inclusão. Em janeiro de 2025, uma manifestação em Lisboa reuniu milhares de pessoas contra o racismo e a xenofobia, reforçando a


importância de políticas públicas voltadas para a integração social.


Com a implementação do Plano Nacional do Pacto das Migrações, Portugal busca equilibrar suas responsabilidades internacionais com suas demandas internas. A expectativa é que, nos próximos


anos, sejam adotadas novas estratégias para facilitar a integração dos imigrantes, promovendo políticas de inclusão e fortalecendo a cooperação europeia na gestão migratória.


A imigração continuará sendo um tema central no debate político e social, exigindo soluções que conciliem crescimento econômico, proteção dos direitos fundamentais e preservação da


identidade nacional. O desafio será encontrar um modelo sustentável que permita que Portugal continue sendo um destino atrativo para imigrantes, sem comprometer sua estabilidade interna.


6. Realidade na implementação: A judicialização da imigração e os desafios dos agendamentos


A transição para um novo modelo de gestão migratória em Portugal, impulsionada pela implementação do Pacto Europeu de Migração e Asilo, trouxe mudanças substanciais, mas também expôs falhas


estruturais que dificultam o acesso dos imigrantes aos serviços essenciais de regularização. A promessa de um sistema mais eficiente e humanizado contrasta com a realidade enfrentada pelos


estrangeiros no país, que, diante de obstáculos administrativos, têm recorrido cada vez mais ao Judiciário para garantir seus direitos.


A AIMA - Agência para a Integração, Migrações e Asilo, criada para substituir o SEF - Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, assumiu a responsabilidade pela gestão dos processos de imigração


e integração. No entanto, a transição não foi acompanhada de um plano de reestruturação eficaz, resultando em um sistema de agendamentos altamente congestionado, onde a obtenção de uma


marcação para residência, reagrupamento familiar ou renovação de documentos tornou-se um desafio burocrático exaustivo.


O impacto dessa falha administrativa pode ser observado na crescente frustração entre imigrantes que, mesmo estando em conformidade com as exigências legais, ficam presos em um limbo


documental, impossibilitados de acessar oportunidades de trabalho formal, assistência médica e benefícios sociais. A demora na análise dos processos, aliada à falta de comunicação eficiente


por parte da AIMA, intensifica a insegurança jurídica e coloca em risco a permanência regular de milhares de pessoas no país.


Diante desse cenário, a judicialização da imigração tornou-se uma alternativa viável para muitos estrangeiros. A ação de intimação para proteção de direitos, liberdades e garantias, prevista


no CPTA - Código de Processo nos Tribunais Administrativos, tem sido cada vez mais utilizada como um instrumento para obrigar a AIMA a conceder agendamentos dentro de prazos razoáveis. Essa


ferramenta legal, antes restrita a situações excepcionais, tornou-se um caminho frequentemente seguido por aqueles que não encontram outra forma de garantir seu direito à regularização.


O aumento expressivo das ações judiciais evidencia uma falha grave no sistema administrativo, que, ao invés de oferecer soluções eficientes, transfere para o Poder Judiciário a


responsabilidade de corrigir suas deficiências operacionais. Essa situação sobrecarrega tanto o sistema de imigração quanto os tribunais, gerando um ciclo de ineficiência que compromete a


credibilidade das políticas públicas e prejudica a experiência dos imigrantes em Portugal.


Além da questão burocrática, a lentidão na regularização migratória tem repercussões econômicas e sociais. A impossibilidade de obtenção de documentos legais impede muitos imigrantes de


formalizarem sua presença no mercado de trabalho, privando o país da contribuição fiscal desses profissionais e gerando instabilidade para empresas que dependem da mão de obra estrangeira. O


impacto sobre o sistema previdenciário também é significativo, uma vez que a imigração desempenha um papel crucial na reposição demográfica e no equilíbrio das contas públicas.


Para que Portugal possa superar esses desafios e consolidar um sistema migratório mais eficiente, são necessárias reformas estruturais que garantam um modelo de atendimento ágil,


transparente e acessível. A expansão da capacidade operacional da AIMA, a implementação de tecnologias que facilitem a digitalização dos processos e a criação de mecanismos alternativos para


regularização poderiam reduzir a dependência da via judicial e tornar o sistema mais eficaz.


A imigração é um fenômeno fundamental para o desenvolvimento econômico e social do país, e sua gestão deve ser baseada em princípios de justiça, acessibilidade e eficiência administrativa.


Enquanto essas mudanças não forem plenamente implementadas, a judicialização continuará sendo uma ferramenta necessária para garantir que os imigrantes possam obter os documentos essenciais


para viver e trabalhar legalmente em território português.


A implementação do Pacto Europeu de Migração e Asilo em Portugal representa uma tentativa ambiciosa de modernizar e harmonizar a política migratória do país dentro do contexto europeu.


Embora sua aplicação tenha trazido avanços normativos e estruturais, a realidade tem demonstrado desafios consideráveis, tanto na gestão burocrática quanto na integração dos imigrantes. O


país se encontra diante da necessidade urgente de aprimorar seus processos administrativos, reduzindo gargalos que comprometem a regularização e ampliando o suporte institucional para


facilitar a adaptação dos estrangeiros.


A criação da AIMA - Agência para a Integração, Migrações e Asilo trouxe expectativas de maior eficiência e digitalização dos serviços, mas sua capacidade operacional ainda não corresponde à


demanda crescente. A dificuldade na obtenção de agendamentos e a morosidade na análise dos pedidos de residência forçaram muitos imigrantes a recorrer à via judicial, expondo falhas


estruturais que poderiam ser resolvidas por meio de melhorias administrativas e investimentos em pessoal e tecnologia. Enquanto esses problemas persistirem, o Judiciário continuará sendo um


recurso essencial para corrigir déficits operacionais, demonstrando que a governança migratória necessita de um redesenho estratégico.


Além dos desafios administrativos, a nova regulamentação tem gerado repercussões políticas e sociais, intensificando debates sobre o impacto da imigração na identidade nacional e na


economia. Enquanto setores progressistas defendem a flexibilização das normas e a valorização dos imigrantes como força motriz do crescimento econômico, grupos mais conservadores enfatizam a


necessidade de maior controle sobre os fluxos migratórios, alertando para possíveis sobrecargas nos serviços públicos. A imigração, no entanto, desempenha um papel crucial na reposição


demográfica e no equilíbrio da previdência social, sendo essencial para sustentar setores estratégicos do mercado de trabalho.


Diante desse cenário, algumas soluções podem ser adotadas para garantir uma gestão migratória mais eficaz. É fundamental ampliar a capacidade da AIMA, investindo na estrutura física e na


contratação de pessoal para evitar que processos se acumulem. A digitalização dos serviços precisa ser aprimorada, reduzindo a burocracia e possibilitando que imigrantes realizem suas


solicitações de forma acessível e rápida. Medidas para facilitar o reconhecimento de diplomas estrangeiros e promover acesso ao mercado de trabalho são igualmente essenciais para viabilizar


a integração dos novos residentes.


Portugal tem uma oportunidade única de consolidar um modelo migratório sustentável, baseado em acessibilidade e governança eficiente. A imigração não deve ser tratada como um problema


administrativo, mas sim como um fator essencial para o desenvolvimento social e econômico do país. As políticas implementadas nos próximos anos determinarão se Portugal será capaz de


equilibrar segurança e inclusão, garantindo que imigrantes possam contribuir plenamente para o crescimento do país sem enfrentar barreiras que dificultem sua permanência.


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Executive Digest - Perguntas e Respostas sobre o Pacto Europeu