'tempestade' política, polarização e relação com trump: os desafios do novo presidente eleito da coreia do sul


'tempestade' política, polarização e relação com trump: os desafios do novo presidente eleito da coreia do sul

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As eleições presidenciais da Coreia do Sul trouxeram uma vitória clara para o candidato oposicionista Lee Jae-myung, seis meses depois do fracasso da tentativa de decretação da lei marcial


no país pelo seu predecessor, Yoon Suk-yeol. A breve e desastrosa medida provocou enormes protestos e pôs fim à carreira política do então presidente. Yoon sofreu impeachment e ainda


enfrenta acusações criminais por abuso de poder. É + que streaming. É arte, cultura e história. + filmes, séries e documentários + reportagens interativas + colunistas exclusivos Assine


agora Mas o caos político que se seguiu significa que o maior desafio de Lee ainda está por vir. Ele precisa unir um país polarizado que ainda está se recuperando da crise. E o presidente


eleito também enfrenta desafios no exterior. O principal deles é a negociação de um acordo comercial com o presidente americano, Donald Trump, para reduzir o golpe resultante das tarifas de


importação impostas pelo maior aliado da Coreia do Sul. Seu principal oponente foi o candidato do partido governista Kim Moon-soo, ex-membro do gabinete de Yoon. Kim havia ficado para trás


nas pesquisas há semanas e, nas primeiras horas desta quarta-feira (4/6), reconheceu a derrota, felicitando Lee "pela sua eleição". Em um discurso anterior, Lee havia indicado sua


vitória, mas se absteve de declará-la. Ele afirmou que sua primeira prioridade seria a "recuperação" da democracia sul-coreana. A atual eleição antecipada ocorreu apenas três anos


depois que o presidente eleito, agora com 61 anos de idade, perdeu sua última eleição presidencial para Yoon, por uma margem ínfima. Trata-se de um retorno notável para alguém que foi


envolvido em diversos escândalos políticos, causados por investigações sobre supostos atos de corrupção e brigas de família. Analistas afirmam que a vitória de Lee também é resultado da


rejeição ao Partido do Poder do Povo (PPP), governista, que ficou manchado pelo decreto de lei marcial do ex-presidente Yoon. "Os eleitores não expressaram necessariamente forte apoio à


agenda de Lee", declarou à BBC o presidente da empresa Min Consulting, Park Sung-min. "Eles reagiram ao que consideravam uma ruptura da democracia." "As eleições


passaram a ser um veículo para expressar indignação... [e] foi uma clara reprovação do partido do governo, que havia sido cúmplice ou diretamente responsável pelas medidas da lei


marcial." Park destaca que a vitória de Lee demonstra que os eleitores colocaram a democracia sul-coreana "acima de tudo". O QUE VEM PELA FRENTE O impeachment de Yoon também


deixou seu antigo partido dividido e desordenado. Desentendimentos internos atrasaram o anúncio do seu candidato presidencial até o início de maio. O caos do PPP vai além de Yoon Suk-yeol.


Afinal, dois presidentes em exercício seguintes também sofreram impeachment, até que um deles foi reconduzido ao poder – um sinal das controvérsias que passaram a reinar na política


sul-coreana. Tudo isso certamente ajudou o Partido Democrata, de oposição, e seu candidato Lee, que acenava com mais estabilidade. Mas, embora tenha vencido a eleição, seus desafios estão


longe de acabar. O presidente eleito enfrenta um julgamento na Suprema Corte da Coreia do Sul, por acusações de violação da legislação eleitoral. A Corte adiou o julgamento até depois da


eleição para evitar interferências, já que uma eventual condenação poderia tê-lo impedido de concorrer. Mas ainda não está claro o que irá acontecer se Lee, agora, for considerado culpado.


As leis do país determinam que os presidentes no exercício do cargo não podem ser processados por razões criminais, exceto por insurreição ou traição. Lee Jae-myung tem uma carreira


controversa. Ele formou uma base de apoio leal, mas também despertou desaprovação e ira pelo que alguns chamam de estilo "brusco". O presidente eleito falou abertamente sobre sua


infância difícil em uma família da classe trabalhadora. Ele cursou a faculdade posteriormente e se tornou advogado defensor dos direitos humanos. Lee seguiu, então, a carreira política pelo


Partido Democrata, até se tornar seu candidato presidencial em 2022. Sua campanha assumiu uma plataforma mais à esquerda, prometendo abordar a desigualdade de gênero, por exemplo. Mas,


depois de perder a eleição, ele mudou de rumo. Desta vez, ele se moveu mais para o centro e adotou uma posição mais segura nas suas propostas políticas. Quando assumir a presidência, Lee


também precisará se aproximar do PPP e trabalhar em conjunto com o partido que ele tanto combateu durante o mandato do ex-presidente Yoon. O novo presidente talvez precise que alguns membros


do partido trabalhem com ele para reconstruir a confiança do público e recompor um país fragmentado. "Anos de escalada da polarização, nos governos [anteriores] de Moon [Jae-in] e


Yoon, deixaram o cenário político da Coreia do Sul amargamente dividido", explica Park. "Lee pode falar em unidade nacional, mas ele enfrenta um profundo dilema: como buscar a


prestação de contas pelo que muitos consideram uma tentativa de insurreição, sem aprofundar as próprias divisões que ele pretende eliminar." Apesar da derrota do PPP, Yoon ainda conta


com uma base de apoio considerável, forte e ativa. E ela provavelmente irá se manter assim por um bom tempo. Seus apoiadores – principalmente eleitores homens jovens e idosos – costumam


apoiar fortes narrativas de direita. Muitos deles acreditam que sua declaração de lei marcial era necessária para proteger o país. Muitos dos seus apoiadores também divulgam teorias da


conspiração. Eles defendem que o partido de Yoon foi vítima de fraude eleitoral. Milhares de manifestantes protestaram contra seu impeachment. Em janeiro, pouco depois da sua prisão, uma


multidão invadiu um tribunal e atacou policiais em apoio a Yoon. Com a saída do ex-presidente, surge a questão: quem poderá preencher este vácuo junto à sua base de apoio? Um nome específico


vem se destacando: Lee Jun-seok também foi candidato a presidente, mas abandonou a disputa na terça-feira (3/6), quando as pesquisas indicavam que ele estava muito atrás, com apenas 7,7%


dos votos. Ainda assim, ele é bastante popular entre muitos homens jovens, pelas suas visões antifeministas. Ele relembra um pouco o ex-presidente Yoon, já que a igualdade das mulheres se


tornou um tema polarizador durante seu mandato. Os homens jovens, na casa dos 30 anos, votaram em maiores números que o habitual nesta eleição. Em parte, eles foram atraídos por candidatos


como Lee Jun-seok. Os eleitores que desejam que o governo liderado pelo PPP seja responsabilizado pelos fatos ocorridos, de um lado, e os que desejavam impedir que Lee Jae-myung chegasse à


presidência, de outro, fizeram com que o comparecimento este ano atingisse 79,4% – o nível mais alto desde 1997. Mas Lee não irá se ocupar apenas de tentar eliminar estas divisões internas


no futuro próximo. Ele também precisará enfrentar urgentes questões externas, como lidar com a aliança entre os Estados Unidos e a Coreia do Sul no governo Trump. "Os preocupantes


desafios domésticos da Coreia do Sul estão cada vez mais interligados com a dinâmica global", afirma Park. Para ele, esta questão traz consequências para a economia e a defesa do país


asiático, já que os Estados Unidos são um parceiro comercial e aliado de segurança fundamental. Para ele, chegar a um acordo comercial com os americanos está no topo da agenda, pois a baixa


demanda e o lento crescimento já estão prejudicando a economia sul-coreana. Lee é um político experiente que chega à presidência sabendo de tudo isso. E, nas primeiras horas após sua


eleição, ele fez uma promessa aos eleitores do seu país. "Farei o máximo para cumprir com a grande responsabilidade e a missão que me foi confiada e não frustrar as expectativas do


nosso povo", declarou o presidente eleito à imprensa. Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente