Hiper-realidade: a saúde mental na era dos bebês reborn


Hiper-realidade: a saúde mental na era dos bebês reborn

Play all audios:


A PSICANALISTA ANDRÉA LADISLAU TRAÇA UMA REFLEXÃO SOBRE A FEBRE REBORN EM ARTIGO EXCLUSIVO * Por: Ana Carvalho 22 mai 2025 - 15h07 Compartilhar CONFIRA ARTIGO EXCLUSIVO ESCRITO PELA


PSICANALISTA ANDRÉA LADISLAU O filósofo Zygmunt Bauman descreveu o modo de vida atual, como sendo uma concepção de uma sociedade "líquida". Os vínculos são frágeis, as relações


interpessoais efêmeras e a solidão, uma constante. Nesse sentido, a era da Hiper-realidade que normaliza o apego emocional fantasioso a Bebês de silicone, só reforça essa busca constante por


recompensas e confortos simbólicos, fruto de um mecanismo de reforço, que afeta, em cheio, o equilíbrio emocional. ENTRE A MODA E O LIMITE Essa febre dos bonecos de silicone, pode refletir


o rompimento dos limites entre a realidade e o imaginário. Exceto nos casos em que as pessoas os utilizam como um objeto terapêutico para curar dores subjetivas. Alguns exemplos seriam luto


mal elaborado, traumas psicológicos, infertilidade, maternidade interrompida, abandonos, solidão, entre outras questões. Tudo dentro de uma normalidade aceitável que não venha a ferir seu


propósito. No entanto, o que temos visto nos últimos tempos, principalmente, através das redes sociais, são conteúdos que sugerem verdadeiros absurdos. Por exemplo, o apego emocional


sugestivo de psicopatias, Bordeline ou desequilíbrio emocional que refletem um exagero da maternidade simbólica. O fruto da intensa necessidade de pertencimento, da elevação da autoestima,


de validação e de uma perfeição que, certamente, compromete e interfere nas relações interpessoais e na forma como essa "mãe" encara suas fragilidades e seus próprios desafios.


ENCARAR A REALIDADE Se todo excesso reflete uma falta, as pessoas não devem considerar a maternidade Reborn como algo permanente nem como substituta de uma relação humana real. Ter a


consciência de seu uso simbólico temporário é fundamental para manter intactos os limites entre o real e a fantasia. A grande questão é que, dependendo da situação, esse boneco é alçado ao


posto de "remédio curativo" para uma dor psíquica invisível. Dor que precisa de uma escuta empática. Precisa ser acolhida por uma rede de apoio atuante e presente e,


principalmente, não ser julgada, ao menor sinal de desequilíbrio. Infelizmente, o Bebê Reborn, em muitos casos, está sendo usado como o disfarce para essa dor. Quando as pessoas não elaboram


um sofrimento, elas usam o "filho boneco" como um amuleto de cura. Uma cura que nem sempre vai acontecer se não houver a consciência de que é preciso separar a maternidade


fictícia da vida real. Seja qual for o gatilho para esse tipo de comportamento disfuncional, o reconhecimento da necessidade de autocuidado e de equilíbrio na saúde mental, é imprescindível


para que as relações humanas não sejam afetadas, comprometendo a autoestima e o amor próprio dessa mulher. UMA REFLEXÃO NECESSÁRIA Portanto, os afetos não simbolizados, as emoções não


expressadas e os vínculos rompidos, presentes em uma maternidade fantasiosa que, oculta as dores e delícias da maternidade real, revelam um grande perigo social: a febre da segurança


emocional das simulações de afeto. Ou seja, quando as pessoas não encaram a utilização do Bebê Reborn como um mero passatempo, um brinquedo lúdico ou um objeto colecionável, sem grandes


expectativas emocionais, certamente, elas o transformam em um gatilho que estimula o imaginário a continuar camuflando uma possível dor psíquica. Enfim, toda essa reflexão, do ponto de vista


psicológico e ético, aponta a necessidade de deixar clara, a importância do uso terapêutico desses bonecos e a necessidade de redução dos riscos de rompimento entre a realidade e a


fantasia, sem o apoio adequado.